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Antes, é preciso dizer que comunistas/socialistas não são, necessariamente, esquerdistas. No Brasil dos nossos dias, nessa divisão entre "nós e eles", tínhamos os lulistas, tidos como socialistas/comunistas/esquerdistas, e os conservadoristas/direitistas. Pensam diferente na forma de ver a política e o Estado. Alguns pretendem definir que os que são vistos como socialistas/comunistas ou esquerdistas adotam uma política dita progressista em que o Estado deve ter suas atenções dirigidas à luta pelos direitos sociais e a movimentos sociais em prol de minorias ou grupos historicamente preteridos pela sociedade, como, por exemplo, o movimento negro, o feminismo, os direitos dos indígenas e movimentos relacionados a orientações sexuais e identidades de gênero minoritárias. O progressismo também tem um forte componente ambientalista. Esses grupos, de forma geral, são associados à esquerda, mas não necessariamente, porque temos direitistas progressistas e esquerdistas conservadores. Portanto, é importante esclarecer que o progressismo não é uma doutrina necessariamente de esquerda: ele pode ser adotado em muitos aspectos pelo pensamento político liberal, especialmente quando este se manifestar contrário à imposição de uma ordem social tradicional. Ao contrário, o conservadorismo é a doutrina política que valoriza a manutenção de valores, tradições e estruturas sociais. Normalmente atribuída à direita e, agora com mais ênfase com o governo Bolsonaro, que é flagrantemente conservador.
São pensamentos políticos que podem e devem conviver democraticamente e, segundo a vontade popular, a cada período definir a opção política desejada pelo povo. Note-se que há mudanças cíclicas nos países democráticos: às vezes, o eleitor pende para um lado e, outras vezes, para o outro lado. Entretanto, não podemos conviver nem admitir que essa opção política seja transformada em ódio pela opção política que está no comando político de uma nação e a que está alijada, ainda que temporariamente, do poder.
Essa política do ódio está levando no Brasil, os dois lados opostos, a um massacre ideológico, com patrulhamento e perseguições de lado a lado. Os homens do presidente, como o ex-ministro Abraham Weintraub, da Educação, veem comunistas em todos os que não estão alinhados com os seus e querem exterminá-los para nos libertar dessa ideologia. Para o outro lado, todos que não pensam como eles são fascistas da pior espécie.
Nessa guerra, o que menos interessa é a discussão de ideias, aquelas que podem nos levar aos melhores destinos e em uma discussão civilizada. Não, isso não interessa a nenhum dos lados. Bastou a escritora Lya Luft confessar que votou em Bolsonaro para que a patrulha ideológica do outro lado a crucificasse e a desqualificasse como se ela estivesse obrigada a votar no lado deles; se não votou, é fascista. Se você confessa que votou em Fernando Haddad, é comunista e deve ser exterminado. Por que esse radicalismo? Não esqueçamos que ambas ideologias não são absolutas. Temos 30% de esquerda e 30% de direita. Os 40% restantes definem, a cada eleição, a opção por uma ou outra ideologia. Isso não é só no Brasil. A diferença é que nos países em que a democracia está consolidada e é duradoura, isso é um processo absolutamente normal, e as pessoas se respeitam e respeitam o que pensam os outros. Vamos mudar um dia, quando atingirmos a maioridade democrática.